segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Novela de uma gordinha - 6° capítulo

[Ajustando as velas]

Depois da conversa com a Mari na semana anterior Nara não estava nem um pouco inclinada a vê-la. Tinham a irritado profundamente as verdades que ela “jogara” na cara sem sequer a preparar pra elas. Também não quis falar com ela desde então.
Tamborilava os dedos sobre a mesa de trabalho, atulhada de papéis, imersa na leitura de um relatório que demandava retorno urgente... Coisas “urgentes”, “urgentíssimas” e “pra ontem” que as pessoas do escritório não “sabiam” como resolver. Já havia passado e muito da hora de ir embora, mas Nara ficou “pra trás” e tentar resolver metade das pendências que cobriam a mesa. Exasperada, soltou o relatório e virou pra a janela. Caia uma chuva fina e a temperatura estava de bom pra frio. Ficou observando o transito caótico do centro... Ficou lembrando da conversa com a Mari... Nara já havia tentado tantas coisas que já perdera a conta. Finalmente ALGO funcionava! Por que mexer em time que estava ganhando? O celular tocou. Era o pequeno TJ perguntando que horas viria busca-lo. Como assim? O Carlos deveria te-lo pego a 1 hora atrás! Nara suspirou irritada olhando a pilha de papéis sobre a mesa.
- Anjo, eu vou o mais rápido possível, ok? - e desligou. Esse relatório não era de responsabilidade de Nara. Era trabalho do Glauco. Mas ele precisava ir mais cedo pra casa pra ver a esposa. Assim como o parecer da Alice, o orçamento da Juliana... Tudo pra o dia seguinte... A pilha de demandas que infestavam a sua mesa não eram de responsabilidade dela. Nara afastou esse pensamento da cabeça e se focou novamente no relatório. Perdeu-se novamente em dados estatísticos e números até que uma voz a tirou da concentração.
- o que ainda está fazendo aqui? - Nara levantou a cabeça e viu Mari na sua frente. - Você já terminou o seu trabalho. E seu filho a espera pra irem pra casa... - Nara voltou os olhos para o relatório a sua frente. - Eu tenho que terminar isso. - Mari cruzou os braços.
- VOCÊ tem? Pelo que eu saiba isso é trabalho do Glauco, não seu... - Nara percebeu que estava tendo uma conversa com ela mesma. Mari jamais seria tão ríspida. Nara soltou o relatório de novo.
- Se eu não fizer, não vai ser feito. O trabalho vai atrasar e a equipe vai ser penalizada. - A Mari imaginária sentou na sua frente. Ela afastou alguns papeis espalhados na mesa e revelou meio pacote de biscoitos recheados.
- Estou vendo... e você então tem que se penalizar para não penalizar a equipe? - Nara zangou-se
- Você está sendo cruel. Além do mais não vou comer mais do que já comi... - pegou o pacote e colocou na gaveta. Mari encostou-se e riu.
- Então você vai guardar pra mais tarde? Se não vai comer mais deles, por que não o joga no lixo? - Nara chocou-se.
- Desperdiçar comida? Com tanta gente passando fome? Nem pensar! - Mari riu de novo.
- isso vai pro lixo de uma forma ou de outra. Passando por dentro de você ou não. Mas se você quer acumular mais centímetros no quadril... tudo bem... Não é mais problema meu. Você desistiu, não foi? - Nara levantou-se irritada.
- Não! Não desisti! - o ar de Mari ficou zombeteiro.
- Ah... desistiu sim... bom... foi uma boa decisão! Pra quê mudar, não é? Você gosta de ser do jeito que é! - Nara baixou os olhos. Não. Ela não gostava de ser do jeito que era. Quando voltou os olhos pra a Mari imaginária ela não estava mais lá. Num lampejo de lucidez, pensou: “ok! Vou mudar. E ISSO vai ser a primeira coisa!” pegou a pilha de papéis e deixou cada pendência na mesa de cada responsável com uma pequena nota: “ainda pendente”. Depois ligou pra a chefe dizendo que tinha um problema a resolver e por isso não poderia vir no dia seguinte. A chefe achou estranho mas concordou pois Nara raramente faltava.
Saiu do escritório com o transito já fluindo melhor. Resoluta, pegou o pequeno TJ na cuidadora e foi pra casa da Mari.


o interfone tocou retirando Mari da concentração do livro que lia. Era Nara. Surpresa, a deixou subir e entrar. Ela estava com o TJ dormindo no colo. Depois de alojar o pequeno no quarto, as duas sentaram frente a frente e Nara contou da pequena “conversa” imaginária mais cedo. Mari riu.
- Verdade. Eu não seria assim. Eu seria MAIS firme! O que estava fazendo no estritório até essa hora, Nara?
- Trabalhando....
- … Em coisas que não eram suas?
- eram coisas que tinham que ser feitas. Independente de o que ou quem.
- Sim. Mas por que VOCÊ? Linda, você tem família também. Tem marido e filho pequeno. Essas pessoas que deram essas desculpas pra te empurrar algo que era de responsabilidade delas com certeza estão descansando em casa pensando “que bom! O que vou fazer amanhã se o que eu tinha que fazer já está feito?” - Nara riu.
- Feito nada! Redistribuir as tarefas de volta a seus donos. Eu nem quero ver o que vai acontecer amanhã de manhã quando as pessoas chegarem e virem que nada foi feito! - Mari soltou uma gargalhada.
- Hahahahaha! De onde você tirou essa ideia, Nara?
- De você!!
- Que bom que eu consegui entrar na sua cabecinha dessa forma! Agora... Nara, você sabe porque quer emagrecer? Não poderemos continuar até você responder essa pergunta.

Nara parou pra pensar um pouco. Depois de alguns minutos em silencio, a resposta da pergunta que a atormentava a semanas apareceu de forma natural... Nara meneou a cabeça. Mari sorriu.
- Agora sim, podemos iniciar a luta...



[3 meses depois....]

Nara e Mari miravam o grande mar azul... Ambas tomavam um suco enquanto estavam rodeadas pelas amigas de Happy Hour. Carla? Bom... esta havia perdido a aposta. Depois de rodar meia cidade para a renovação do guarda roupa de Nara, Mari anunciou que todas iriam pra o Litoral... comemorar a nova vida de Nara. A casa era linda, e dava pra uma praia pouco explorada pelo turismo que reforçava a ideia de paraíso particular. Carla levantou o copo com a cerveja e brindou...
- Não vou negar... Essa foi a primeira vez que eu GOSTEI de ter perdido uma aposta! - Mari e Nara riram da observação... O olhar de Nara agora brilhava. Além do peso a menos, muitas coisas na vida de Nara mudaram... Mas não sem antes tudo virar de pernas por ar. Casamento, emprego, carreira... Depois de ter passado por um quase-divórcio, Carlos mudou da água pro vinho. Diminuiu a carga de trabalho para passar mais tempo com a família... O escritório? Bom... Nara não trabalha mais lá. Conseguiu um outro emprego mais direcionado na sua área de formação. O pequeno TJ? não poderia estar mais feliz... agora passava mais tempo com a mamãe e papai!!
Nara fechou os olhos por um minuto e sentiu a brisa morna vinda do mar... Realmente.. foi uma tempestade horrível... mas ela aprendera a ajustar a velas...

Você deve estar se perguntando... e a manta? Bom... essa eu vou deixar pra imaginação de vocês... assim como a resposta da Nara... E você?
Por que você quer emagrecer?


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